Aquele momento havia passado desapercebido por dezenas de anos.Eu sabia que aquela ONG desenhava carteirinhas escolares para crianças deficientes físicas. Que ela havia surgido porque a mãe de uma delas queria a igualdade para as tres filhas desiguais, uma delas deficiente física. Que este é um tipo de sofrimento que todos intuem apenas à distancia. Que as escolas convencionais eram surdas aos argumentos de que a criança era as vezes tão ou mais inteligente que as demais. Apenas não se sentavam. Não andavam.Não podiam.
Cliquei no video do you tube. Aquele momento foi uma fresta. O real passou como se pudesse ser perdido por um triz.
A oficina ensinava os pais. No final do dia, coloridas, as cadeiras começavam a receber as crianças. O video registrava os irmaõzinhos sentados ao redor. Os oficineiros ajeitando os cintos laterais de segurança. A criança sendo erguida. Ganhando a segurança de algo parecido com uma coluna vertebral. A intimidade com a cadeirinha sendo conquistada pelo cheiro de tinta recente. Pela cor de mundo novo. Pela temperatura aquecida da novidade.
De repente, como se invadindo a privacidade da camara, dos olhares, da surpresa dos
presentes, as crianças riam e choravam maravilhadas.Interagiam pela primeira vez com os irmãozinhos que se sentavam curiosos e próximos. O mundo agora se sentava ao redor. Deixava de haver apenas o teto ou o braço da mãe. A cadeira aconchegava algo sem nome. Havia o ao lado,o curvar para pegar o brinquedo. O rosto do irmão de perto. Quase do tamanho das outras crianças, antes sempre mais altas ou mais baixas. Girar quase meia volta.E se quisesse, tomar o brinquedo do irmão.Poder escolher por deixá-lo entrar no seu mundo. Fazer parte dele por opção. Livrar-se da aquiescencia generosa e desqualificante.Ver pela primeira vez de perto o desejo conquistável.
Ganhar ou perder num jogo onde a regra anterior aumentava a chance do perder ou perder.
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